domingo, 13 de abril de 2014




Às vezes a vida parece um rádio dessintonizado. Você olha à frente e só enxerga um cinza um tanto enevoado; ao fundo, há apenas um chiado ininteligível. Fica como uma incógnita. A sensação é de que o presente, o passado e o futuro - num só - estão assim meio mexidos, meio borrados. Acho que o que muda, na verdade, é a nossa interpretação dos fatos. São tempos de mudança; como quando mudamos o óculos de grau - no início fica difícil de enxergar, porque tudo está diferente. Quando mudamos nosso ponto de vista, pode não ser tão fácil discenir claramente o que estamos vendo. A exata mesma coisa, sob o novo ângulo, pode nos trazer sensações totalmente diferentes. Ver o passado de uma forma mais leve. Tirar aprendizados das frustrações, fazer graça das desgraças. Olhar pra frente com menos ansiedade, menos expectativas - e, principalmente, menos medo. Se o aqui e o agora for mais consciente, mais lúcido, não há o que temer - ainda que não se ouça mais do que o chiado do rádio.






segunda-feira, 25 de abril de 2011

Não é que a mulher faça menos sexo que o homem,


Não é que a mulher faça menos sexo que o homem - talvez, depende do caso. A questão não é a quantidade, mas o número de parceiros diferentes. A mulher tende a buscar mais vezes o mesmo parceiro por uma questão biológica e instintiva: precisa se sentir segura e ter alguém estável para o caso de uma gestação (mesmo que se utilize métodos anticoncepcionais, é algo instintivo e não muda).

Além disso, o ato de reprodução não é tão simples para a mulher como é para o homem. Enquanto este tudo o que precisa fazer é despejar as gametas e ir embora, a mulher passaria nove meses carregando um parasita, entortando a coluna, e ainda mais quinze meses amamentando. É muito desgastante, em comparação. 

Por sexo ser tão "livre de consequências" para os homens, a tendência é que eles façam numa quantidade maior e com um número maior de parceiras, com o objetivo de espalhar seu material genético mundo afora para que este possa ser perpetuado.

O homem só vai se focar em uma só mulher quando encontrar uma que pareça especial. Que tenha personalidade própria, que seja ativa no mundo e tenha capacidade de pensar. Esta é a parte do texto que toda garota adora: lê pensando no que deve fazer para ser assim. "Aposto que a autora vai dar umas dicas!". Ah, que ridículo. 

Parece que as meninas são educadas, desde sempre, para a reprodução. Brincam de cozinha, cuidam de bebês de pano e plástico, se maquiam para ficarem atraentes desde os dez anos, hoje em dia. Crescem, logo colocam em exposição as pernas longas e os seios fartos que um dia alimentarão a prole (e como colocam em exposição...).

Em outras palavras, assim como as mulheres adoram se queixar de que "os homens não prestam, só pensam em sexo", também elas são criadas - pelos pais, pela mídia - pra ter uma existência praticamente só focada na reprodução. Só que, claro, de uma maneira muito mais romântica, o príncipe encantado no cavalo branco e todo aquele mimimi.

A leitora fútil pára e me pergunta: "tá dizendo que isso não existe?". Cara, existindo ou não, a vida é mais do que isso, entende? Às vezes eu tenho a impressão de que tanto homens quanto mulheres são focados demais no processo de perpetuação genética. O quão egocêntrica uma sequência de bases nitrogenadas pode ser?!

Uma vez, na Cidade Baixa, eu andava do lado de duas amigas que exibiam seus corpos saudáveis e úteros disponíveis pela rua. Um cara veio pra cima de uma delas, sem perdão. Houve quase violência para a guria se livrar dele. Esse desespero eu acho muito engraçado - muitas vezes a garota nem queria aquilo; vestiu-se de maneira provocante porque é como a maioria se veste e ela não queria se sentir "ofuscada". Por consequência, um cara quase a agarrou contra a vontade dela. Foi então que me veio um daqueles insights que o estado alterado da mente muitas vezes nos proporciona:
- Aquele cara acha que ele tem genes melhores que os outros?! Ele não precisa sair por aí colonizando úteros!

E é o que a maior parte dos caras fazem - até certa idade, pelo menos: colonização de úteros. Leva um tempo até que se toquem de que isso é um desperdício.

Da mesma forma, leva um tempo até as meninas compreenderem que não é estritamente necessário ter um namorado. Aquele tipo de garota que traça metas, que chora no dia dos namorados em casa sozinha comendo chocolate - ALÔU? Okay, eu sei que você também quer seus genes perpetuados, querida, mas tem idade pra isso. Até lá, preocupe-se mais em desenvolver-se, em aprender a pensar e absorver idéias e conhecimentos das culturas do mundo.
Ou simplesmente fique atirada na areia na beira da praia, adquirindo melanina. Your choice. Mas VIVA, amadureça antes de pensar em pôr alguém no mundo.
Que criança fazendo criança é o que mais tem.